Em uma tarde quente de 8 de maio de 1886, o farmacêutico John Stith Pemberton preparou um xarope adocicado em seu laboratório em Atlanta, Geórgia, sem imaginar que estava criando uma das marcas mais reconhecidas do planeta. Levou o produto até a Farmácia Jacobs, onde foi misturado com água carbonatada e vendido por cinco centavos o copo. Nascia ali a Coca-Cola (KO; COCA34), apresentada como uma bebida “deliciosa e refrescante” — um slogan que sobrevive há mais de um século.
O contador e sócio de Pemberton, Frank M. Robinson, foi quem sugeriu o nome “Coca-Cola” e desenhou o logotipo com sua caligrafia, marcando o início de uma identidade visual que atravessaria gerações. Em seu primeiro ano, a média de vendas era modesta: apenas nove copos por dia. Mas a ideia de Pemberton rapidamente se espalhou pelas fontes de refrigerante dos Estados Unidos, impulsionada por anúncios no The Atlanta Journal e placas pintadas à mão convidando o público a “Beber Coca-Cola”.

Pemberton, no entanto, nunca testemunhou o sucesso do produto. Doente e endividado, vendeu gradualmente os direitos da fórmula, que acabariam nas mãos de Asa G. Candler em 1888. Candler, um homem de visão empresarial, transformou a bebida local em um império. Foi sob seu comando que a Coca-Cola começou a ser distribuída em larga escala e se tornou uma marca nacional.
Coca-Cola: a era das garrafas e o nascimento de um ícone
Nos primeiros anos, a Coca-Cola era servida apenas em fontes de refrigerante. Isso mudou em 1899, quando os advogados Joseph Whitehead e Benjamin Thomas, de Chattanooga, conseguiram os direitos de engarrafamento. A partir daí, o refrigerante começou a viajar por todo o país. Em 1920, já existiam mais de 1.200 engarrafadoras licenciadas.
O crescimento trouxe um problema inesperado: a imitação. Concorrentes tentavam confundir consumidores com nomes como “Koka-Nola” ou “Toka-Cola”. Para se diferenciar, a empresa buscou criar uma embalagem inconfundível. Em 1915, nascia a garrafa de curvas únicas — descrita como “a saia justa” da Coca-Cola. Considerada um marco do design industrial, ela foi celebrada por artistas como Salvador Dalí e eternizada por Andy Warhol, que a transformou em símbolo da cultura pop na década de 1960.
O designer Raymond Loewy chegou a chamar a garrafa de “a embalagem perfeita para líquidos”, e sua silhueta se tornou tão famosa que bastava vê-la — mesmo sem o rótulo — para saber do que se tratava.

Entre mudanças e conquistas
A Coca-Cola atravessou o século XX como um símbolo global de consumo e cultura. Em 1985, no entanto, a empresa ousou alterar a fórmula pela primeira vez em 99 anos. O resultado foi um desastre: a “Nova Coca-Cola” provocou uma onda de protestos, e a versão original retornou ao mercado apenas 79 dias depois, agora sob o nome “Clássica”.
O mesmo ano marcou outra conquista histórica: a Coca-Cola tornou-se o primeiro refrigerante consumido no espaço, quando astronautas a bordo do ônibus espacial Challenger testaram uma lata desenvolvida especialmente para gravidade zero.
Um ano depois, em 1986, a marca celebrou seu centenário em Atlanta, criou a Fundação Coca-Cola Scholars e unificou parte de suas operações sob a Coca-Cola Enterprises, uma engarrafadora listada em bolsa.

Inovação e novos sabores
A virada para o século XXI trouxe novos desafios e oportunidades. Em 2005, a empresa lançou uma versão sem calorias que se tornou sucesso global. No ano seguinte, criou o Grupo de Investimentos em Engarrafamento, responsável por coordenar as operações industriais da marca em todo o mundo.
Em 2009, apresentou a Freestyle — uma máquina que permite aos consumidores escolher entre mais de 100 combinações de bebidas. A inovação simbolizava o espírito que acompanha a empresa desde sua origem: reinventar-se sem perder a essência.
De um simples xarope criado em uma farmácia de bairro ao refrigerante mais famoso do planeta, a história da Coca é também a história da cultura moderna. Sua garrafa tornou-se arte, sua marca virou sinônimo de prazer e seu sabor, um idioma universal.
Mais de um século depois, a promessa de ser “deliciosa e refrescante” ainda ecoa — agora não apenas nas fontes de refrigerante de Atlanta, mas em cada canto do mundo onde alguém abre uma garrafa e escuta o som inconfundível do gás escapando.
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